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Escrito por Fabio Hernandez - 19/08/2008
Obrigado, Zé Pedido de mãe não é coisa que se ignore. Minha mãe pediu que eu escrevesse um artigo sobre amizade. Já falei sobre minha mãe. Seu único fracasso foi não transmitir a mim seu português impecável. (Se não falei, deveria ter falado.) Minha mãe, sempre que eu pedia um copão de Nescau, me corrigia: “Copão não, Fabinho. Copázio”. Tomei (e tomo) muito Nescau na vida, em copos às vezes enormes, mas jamais consegui pedir um copázio. Bem, trato então de atender ao pedido de minha mãe. Vou escrever sobre amizade. Como definir? Me ocorre uma frase de Santo Agostinho que me foi mostrada uma vez por tio Fábio, um falecido homem sábio do interior. Deus o tenha. Alguém solicitara de Agostinho uma definição sobre o tempo. Quando não pensava nele, Agostinho sabia o que era. Quando pensava, não conseguia defini-lo. Amizade é mais ou menos como o tempo. Sabemos o que é no dia-a-dia, mas, quando paramos para encontrar uma definição, faltam palavras. O que levou minha mãe a me fazer o pedido foi uma cena de amizade que ela testemunhou. Num momento particularmente difícil para seu filho Fabinho, a aparição sorridente e exuberante de um amigo teve o efeito iluminador, quase redentor, de uma chama que traz luz e calor a um quarto escuro e frio. O nome desse amigo é José. Zé. Simplesmente Zé. (Adoro a simplicidade sonora de Zé.)Eu estava me preparando para ir para o hospital. Seria operado no dia seguinte. Um problema que parecera banal se revelara, com rapidez avassaladora, sério e ameaçador. Num dia eu estava jogando uma partida de tênis de quase 2 horas. No outro, me confrontava com a iminência de uma cirurgia complicada. Subitamente contemplei a própria mortalidade. Gostaria de dizer que me comportei de forma heróica e estóica, mas estaria ludibriando a mim mesmo e a quem me lê. A verdade é que senti muito medo. Jamais, até ali,tivera projetos de morrer antes dos 90 anos. Minha família estava toda reunida na tarde em que eu iria para o hospital. Eu já tinha chamado o elevador quando avisaram, pelo interfone, que o Zé chegara. O Zé passara, dois anos antes, por uma situação idêntica à minha. Lembro que fui a terceira pessoa a quem ele contou seu problema. Primeiro, falou para a mãe. Depois, para a namorada. Depois, para mim.Ver, momentos antes de partir para o hospital, o Zé tão bem, tão pleno de vida, tão cheio de planos, foi indescritivelmente animador para mim. E mais ainda para minha mãe, tão hábil em disfarçar sua apreensão em relação a seu Fabinho. Conversamos rapidamente, porque eu já estava atrasado. Mas daquela breve conversa surgiu um modelo, uma referência, uma motivação para mim. Dali por diante, quando um fantasma me as-sombrava, a imagem vivaz do meu amigo Zé era a resposta.Dias depois, já operado, minha mãe disse que jamais vira uma demonstra-ção tão bela de amizade. E me pediu que um dia escrevesse sobre isso. Quando o Zé foi me visitar no hospital, reproduzi para ele as palavras de minha mãe. Ele ficou com os olhos marejados. (A última vez em que o tinha visto com os olhos úmidos fora exatamente quando me narrara seu problema.) E eis-me aqui cumprindo o desejo de minha mãe. E também meu: fica registrada aqui minha gratidão eterna a meu amigo Zé. Como Agostinho em relação ao tempo, não sei definir a amizade. Mas sei o quanto um amigo pode tornar nossa vida melhor. Obrigado, Zé.
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